segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

RAIS: Potencializando a beleza da maturidade

Da terceira idade para a melhor idade, os idosos estão cada vez mais ativos e participativos. Um exemplo é a Rede de Amigos Idosos Solidários (Rais) de Belo Horizonte, um grupo formado por idosos que, há dois anos, trabalham de forma voluntária para valorizar a pessoa idosa no estado de Minas Gerais. O objetivo deles é mostrar à sociedade uma nova visão do envelhecer, distanciada do assistencialismo e fundamentada na integração do idoso na vida social e familiar.

Como principal estratégia de trabalho, eles visitam as cidades mineiras diagnosticando as demandas da população idosa daquela localidade, por meio de questionários e pesquisa presencial. As viagens são feitas com recursos próprios do grupo, que possui 15 integrantes fixos, de Belo Horizonte, com idade entre 60 e 90 anos. Em algumas cidades eles contam com apoio da prefeitura local, mas quando isso não acontece, eles ficam em hotéis ou na casa de idosos da cidade visitada, que oferecem hospedagem e alimentação.

Segundo Irene Coutinho, de 70 anos, o grupo já passou por 11 cidades e o diagnóstico mais freqüente é a falta de atenção e cuidado com questões relacionadas a terceira idade. “O trabalho do idoso e sua cultura muitas vezes não são reconhecidos nem pela comunidade, nem pelas prefeituras. O que ele é, nem sempre é valorizado”.

O grupo já visitou as cidades de Cachoeira do Pajeú, Curral de Dentro, Joaima, Marcela, Nova Lima, Pedra Azul, Piuí, Formiga, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano. Em cada cidade que eles passam, deixam um amigo solidário, que passa a compor a rede.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Regulamentação X Retrocesso

Você contrataria um especialista em chaves para cuidar da sua saúde?

Ponderações como essa foram elaboradas pelo Desembargador Antônio Álvares da Silva, do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais, em palestra sobre a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão jornalismo. A palestra, no dia 28 de outubro, foi o destaque no segundo dia da Semana da Comunicação. O evento, promovido pelo Curso de Comunicação da Estácio de Sá de BH, abordou as "novas perspectivas da prática profissional".

Antônio Álvares utilizou exemplos do cotidiano para ressaltar a importância da qualificação profissional para o exercício de determinadas atividades, em especial as que cumprem relevante função social, como o jornalismo. Segundo ele, o jornalista deve possuir qualificações técnicas, científicas e culturais, para pode transmitir informações de qualidade, que irão orientar a sociedade. O desembargador explicou que embora o diploma não seja uma garantia de formação adequada, ele presume que o profissional recebeu a qualificação necessária para o bom exercício de sua missão.

Quanto ao mau jornalismo feito por alguns profissionais - no sentido de tendencioso, sensacionalista ou até mesmo "publicitário" - o desembargador esclareceu que o problema não está ligado à formação dos jornalistas, mas sim, à lógica estrutural e à visão mercadológica das empresas de comunicação; e ressaltou a importância do trabalho de alguns jornalistas independentes:

Na palestra, Antônio Álvares relacionou para estudantes e professores os principais pontos do debate jurídico sobre o tema. Ele questionou também os argumentos utilizados pelo Ministério Público de São Paulo, autor da ação que pede o fim da exigência do diploma para o exercício jornalístico. Os professores elogiaram a clareza e o conteúdo das considerações feitas pelo desembargador;

A ação que pretende acabar com a obrigatoriedade do diploma será julgada pelo STF - Supremo Tribunal Federal. Para Antônio Álvares, o fim da obrigatoriedade seria um retrocesso. A clareza de sua exposição deixou mais confiantes os futuros jornalistas:

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Márcia, Léia, Júlia, Lia, Cecília ... ... ... ... ... ... ... ou seria Gilse Cosenza?

As múltiplas identidades de um ícone do movimento estudantil, da luta pelos direitos humanos e especialmente das mulheres foram expostas na noite de quarta-feira passada no Auditório Juscelino Kubitscheck, do campus Prado da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte.

A assistente social Márcia, quero dizer Léia, ou melhor Júlia, Lia? ou Cecília? Ah sim, a assistente social Gilse Cosenza falou sobre “um olhar feminino sobre a luta política” na segunda palestra do evento “1968, o sonho acabou?” realizado dos dias 28 a 30 de maio.

Além de informar e comover, inspirou o público presente contando seus pontos de vistas e perspectivas quanto ao futuro do país.

Ela conta que seu envolvimento com a luta política contra a ditadura militar começou na faculdade. Enquanto membro do DA (Diretório Acadêmico) do curso de Serviço Social e do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da PUC Minas, Gilse e seus companheiros lutavam por mudanças básicas nas estruturas do curso e nas normas de comportamento rígidas, consideradas por eles desnecessárias e inconvenientes. Ainda nesse tempo Gilse já lutava pelas causas femininas como a reinvidicação pelo direito ao uso de calças jeans e mini-saias.

Com o golpe em 64 e o agravamento de todo tipo de privação e repressão, os estudantes perceberam que havia lutas mais serias a serem travadas além do âmbito estudantil e da ascensão feminina. Organizaram-se então em um grupo politicamente engajado e passaram a atuar em vários protestos e a produzir panfletos e pequenos zines – impressos em copiadora de gelatina, pois era arriscado usar o mimiógrafo da universidade para tal fim – que confrontavam a filosofia militarista e pregava o socialismo, a valorização da mulher, a liberdade de expressão e o livre arbítrio.

Além de enfrentar as cobranças familiares, os dogmas religiosos, o machismo, o preconceito e a intolerância, agora eles eram considerados inimigos públicos e principalmente inimigos da polícia.

Gilse contou que sua turma não colou grau para não ser presa durante a cerimônia, pois estavam sendo procurados pela polícia. Ela lembrou a reação de seu pai ao ler no Estado de Minas a lista dos subversivos procurados e conferir o nome de sua filha como a única mulher do grupo.

Vendo o cerco se fechar cada vez mais o grupo decidiu fugir, e para não acarretar maiores problemas com a família decidiram casar entre si. Gilse queria casar de mini-saia vermelha para terror de seu pai:

-“Eles vão pensar que você não é virgem menina!”

- “Ué, mas num sô mesmo.”

- “Num fala isso que alguém pode acreditar!!!”

- “Mas é verdade pai...”

- “Num fala isso menina!!!”

Casou afinal, com um “mini-vestido”, branco mesmo. Foi então que Gilse virou Márcia e caiu na clandestinidade. Mais tarde, grávida, mudou-se para roça em 68 e de Márcia virou comadre Ceci. Durante uma das reuniões do grupo, a bolsa de Ceci, ou melhor, a bolsa de Gilse estourou e depois de algum tempo – a princípio ela pensou que não estava conseguindo segurar a urina – foi levada ao Hospital das Clínicas onde teve gêmeas aos sete meses de gestação. Devido ao nascimento prematuro as duas nasceram bem fracas e uma delas morreu com apenas 15 dias. Saiu do hospital, deixou a filha com uma amiga da universidade e voltou para a clandestinidade.

Em junho de 68 Ceci foi presa, ou melhor, Gilse foi presa - e aí começou a choradeira no auditório. Ficou confinada na solitária de onde só saia para os interrogatórios, sob tortura, claro, na penitenciária do horto. Ela descreveu com detalhes as torturas físicas que sofria diariamente; espancamentos, “pau-de-arara”, “latinha”, “telefone”, cacete com tachinhas, choques elétricos na vagina, ouvido, linha, mãos... e estupro. Além disso, contou o inferno psicológico que os militares criaram quando diziam ter capturado Juliana, sua filha com 4 meses de vida, na época. Diziam horrores e faziam, segundo ela, a pior tortura que sofreu.

Mais tarde ela foi transferida para uma penitenciaria em Juiz de Fora, onde seria julgada. A única arma das mulheres na cadeia segundo Gilse era a greve de fome. E a única coisa que elas conseguiram com isso foi a assinatura do Jornal do Brasil, para os prisioneiros políticos. No primeiro dia em que o jornal chegou, Gilse foi logo nas tirinhas para saber se Henfil - referido como Henriquinho e até então namorado de Gilda, sua irmã – ainda estava escrevendo suas tiras. E além de ainda estar escrevendo Gilse acreditou que enviava um recado para ela mesma. A tirinha mostrava uma menina comilona que foi advertida: “Para de comer tanto chocolate com morango que isto vai te dar caganeira”. Gilse interpretou isso como uma mensagem de que Juliana ainda estava viva e forte, pois comendo muito chocolate com morango.

Foi julgada e absolvida. Só no dia da primeira audiência que Gilse então teve notícias de sua filha, ao vê-la nos braços da mãe e da irmã pela janela do tribunal. Foram lhe concedidos alguns minutos para ter com a filha, com 8 meses na época.

Liberta, Gilse partiu para São Paulo como Léia; mais tarde foi para o interior como Júlia e posteriormente tornou-se Lia. Já com a filha - que achava a troca de nomes uma coisa natural e até divertida - e o nome de Cecília, partiu para o Ceará para lutar pela anistia. Lá permaneceu até o fim da ditadura, quando pôde revelar o nome verdadeiro à Juliana, já com 12 anos. Juliana não gostou nada do sobrenome Cosenza e pedia sempre pra trocar.

Mesmo contando fatos chocantes e comoventes Gilse arrancou além de lágrimas, muitas gargalhadas do público com seu jeito natural e espontâneo de conversar. Sem dúvida um exemplo de coragem e perseverança. Para ela tudo valeu a pena pois a ditadura não existe mais e “agora mesmo nós estamos tratando de assuntos de interesse público aqui e não tem nenhum camburão parado ali na porta nos esperando”, como ela brincou.

Embora a ditadura tenha acabado, Gilse acreditra que o sonho não acabou e que muita coisa há de ser feita. Ela ressaltou que as tentativas que falharam no passado servem mais de estímulo do que motivo de desânimo, uma vez que dão suporte para novas tentativas que não irão falhar da mesma maneira. Aos 64 anos de idade, Gilse continua com sua militância feminina, na luta pelos direitos humanos, integra a direção do PC do B e atua na Movimento Popular da Mulher.

Por fim ela disse que acredita num Brasil socialista, mas num modelo de socialismo com cara de Brasil, onde sua neta Manuela de 2 anos possa crescer com saúde e inteligência para ter uma vida livre e feliz.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sucessão em Belo Horizonte

É ano de eleição e Belo Horizonte vive a polêmica da aliança de partidos até então tidos como adversários. Para enterdermos melhor, o acordo que vem sendo costurado pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) e pelo governador Aécio Neves (PSDB), incluiu o PPS, tendo o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Márcio de Araújo Lacerda (PSB), como cabeça de chapa e o deputado estadual Roberto Carvalho (PT) como candidato a vice.

Mesmo com a Executiva Nacional do PT querendo vetar a aliança com os tucanos na capital mineira, o presidente do diretório municipal petista, Aluisio Marques, destacou para o Último Segundo, que "a aliança que está sendo aprovada é estritamente municipal para as eleições de 2008".

O estudante de jornalismo Renato Simão levantou as seguintes questões; afinal, onde o eleitor mineiro sai ganhando com esta aliança, visto que a grande polêmica ao redor desta aliança na realidade é ao redor do comprometimento da candidatura de Aécio Neves à presidencia da república, daqui a dois anos? Quais são os interesses defendidos por partidos que até então tinham, ao menos teoricamente, visões tão diferentes a respeito do governo e suas prioridades, e que viviam atacando e condenando cada qual o seu adversário? O prórpio presidente estadual do PT, Reginaldo Lopes, declarou ao PtLeopoldina que considera de "difícil costura" tal acordo; pois "Apesar de em Minas fazermos política de forma respeitosa, preservando as relações institucionais, há grandes diferenças que separam os projetos políticos. A principal delas diz respeito à gestão do governo", afirmou Reginaldo.

O estudante de jornalismo Guilherme de Abreu, disse que se a aliança for necessária para uma melhor gestão da cidade é muito bem-vinda, mesmo entre partidos até então de ideologias contrárias, mas expressou sua preocupação com a falta de opções que isso possa acarretar. O também estudante de jornalismo Amarildo Alves não vê sentido nesta discussão pois ele acredita que há muito tempo os partidos deixaram de ter um determinado caráter ideológico. "Se os caras trocam de partido toda hora ual a diferença de juntar então esses partidos?", questiona o estudante.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Democracia - Fins e Meios da/de Comunicação

Quando tratamos de democratização dos meios de comunicação, no que diz respeito a informação e a formação de opiniões, logo caímos no questionamento da defesa da categoria dos jornalistas. O escritor, jornalista e crítico de mídia Eugênio Bucci esteve em Belo Horizonte na quarta-feira passada para discutir o tema “TV pública na era digital”, no terceiro seminário realizado pela Rede Minas.

Um dos assuntos centrais da palestra foi a defesa da categoria, que aliás, sou da mesma opinião de Bucci a respeito e gostei muito do que ele disse. Tanto que a disponibilizo nas próprias palavras do autor:

TV Pública na Era Digital

Acompanhado do presidente da Rede Minas e da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais), Antônio Achilis, Bucci palestrou das 10 da manhã até às 12:30 discorrendo sobre vários assuntos e respondendo às perguntas dos diversos profissionais de comunicação presentes, além de falar um pouco sobre o que ele aborda em seu último livro: “Em Brasília, 19 horas" - segundo o autor, este livro é o inventário dos erros cometidos na gestão da Radiobrás (Empresa Brasileira de Comunicação S.A) - que dirigiu de janeiro de 2003 a abril de 2007 - e pretende contribuir no sentido de explicitá-los para que não se repitam.

Bucci começou dizendo que a principal crise da comunicação pública não é de recursos financeiros, tampouco recursos humanos, ao contrário do que os profissionais da área tanto pregam. O maior e principal problema seria a clareza de propostas e a coesão entre as equipes. Ele lembra a letra de Raul Seixas quando diz: “Sonho que se sonho só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Para ele o principal entrave é a falta de perspectivas, de objetivos e o empenho mútuo em alcançá-los. Assista aqui o trecho onde ele discorre e questiona a respeito:

Como ex-membro da Abepec e amigo direto dos integrantes da instituição, ele deu o testemunho de várias emissoras com grande contingente de profissionais que não produzem nada de interessante ao público, no melhor sentido da expressão, e ainda replicam os erros das emissoras comerciais – apontados no vídeo acima. Para Bucci tais emissoras deveriam ser asfixiadas para o próprio bem e principalmente para o bem dos cidadãos. Equipes não comprometidas, não engajadas e muitas vezes não autoras dos próprios projetos, ferem a competência da instituição (Abepec) uma vez vinculadas a ela.

Ele ressaltou que a resistência às inovações (com respaldo legal/sindicato) é outro atraso para o avanço da comunicação pública. As barreiras contra as inovação tecnológicas são mais sérias nas emissoras públicas do que nas comerciais, pois há o discurso defensivo dos técnicos. Como fica o iluminador, o cinegrafista? Bucci deixou claro que não quer desmerecer o papel de nenhum profissional, mas que é importante encarar algumas verdades e uma delas é que o repórter sozinho hoje pode fazer uma matéria de ótima qualidade, sozinho. “Não é pra desclassificar, é pra aprimorar”.

Outro empecilho da comunicação pública é a caretice da programação, segundo Bucci, que muitas vezes é obrigatória, pois tem rabo preso com as instituições públicas das quais as emissoras pertencem, como é o caso da TV Câmara, que aliás, tinha algumas representantes no local. Uma programação mais atraente seria um dos passos básicos para se fazer um jornalismo público de mais visibilidade e consequentemente de maior qualidade.

Um erro grave no pensamento do fazer comunicação pública apontado por Bucci foi o de que a comunicação pública deve existir pra combater as distorções das emissoras comerciais. “Mesmo se as emissoras comerciais tiverem uma programação ótima, a TV pública ainda se faz necessária. Uma coisa não depende da outra neste caso”, contrapôs.

Ainda lembrou que o engajamento da sociedade nas transformações da comunicação é fundamental, no sentido de cobrar melhorias reais e produzir críticas que vão além do âmbito doméstico. A TV Digital, segundo ele, pode ser usada, ao contrário da propaganda que tanto fazem, apenas para reafirmar a capitania hereditária da TV nacional. Se o povo deixa, não vai ser usada pra multi-programação, nem para interatividade, tampouco para fomentar as produções independentes. E o quadro vai continuar o mesmo.

Obs: Assistam aos vídeos e leiam a biografia de Eugênio Bucci! Quem quiser o vídeo do seminário na íntegra é só pedir no e-mail: gabrielpires87@gmail.com

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quinta-feira, 10 de abril de 2008

Muito me chamou atenção a arquitetura da casa de número 1.466 da rua da Bahia, pela quase já passei na porta tantas vezes sem reparar. Além dos belos móveis antigos e caprichados adornos nas pilastras, arestas e janelas....

Jornalismo Literário

...gostei muito de ouvir que o jornalista deve, sim, assumir uma posição diante dos acontecimentos dos quais trata em suas reportagens. Quem disse foi Domingos Meirelles, jornalista há 43 anos, convidado a palestrar (e de quebra lançar seu segundo livro "1930: os órfãos da Revolução ") pelo jornal "Hoje em Dia", que comemora 20 anos, junto com a Academia Mineira de Letras, que comera seu centenário.

Sempre achei uma hipocrisia e uma negação a natureza humana essa idéia de imparcialidade, de neutralidade dos jornalistas diante dos fatos por eles retratados. Coincidência foi a afirmação deste pensamento, quando li no texto de Maurice Mouillaud, "A crítica do acontecimento ou o fato em questão", indicado pela professora de Crítica e Mídia, que diz: "uma ideologia dominante faz com que certas ocorrências apareçam no campo da informação, enquanto outras são afastadas do mesmo campo; uma moldura arbitrária é aplicada sobre a realidade"; e ainda; "as notícias devem ser interpretadas como o resultado de acordos - implícitos ou explícitos - entre os agentes das redes (networks), e como as redes profissionais são elas mesmas entremeadas com os estabelecimentos político e sociais, as news aparecem como o desafio de estratégias nas quais intervêm 'promotores', 'montadores' do acontecimento".

Domingos Meirelles contou que estreou como jornalista em 65, no jornal Última Hora, acolhido pelo amigo Maurício Azedo. Ele disse que escolheu o jornal, que não era motivo de status que tinha mas uma visibilidade considerável, porque era arduamente simpatizante de sua linha editorial, o único contra o golpe militar, a cassação de JK e outras coisas da época, segundo ele absurdas e inaceitáveis.

Em 66 foi contratado pela Editora Abril, onde entrou pela Revista 4 Rodas. Depois de lerem duas matérias de Domingos, uma sobre um cego que conseguiu tirar carteira de motorista, e a outra sobre roubo de automóveis no Brasil que eram vendidos no Paraguai, o pessoal da revista Realidade, também da editora Abril, o chamou para trabalhar com eles. Depois Domingos passou pelo Jornal da Tarde, pelo O Globo e pelo Estadão, quando a Rede Globo o descobriu. Na globo começou no Jornal Nacional e mais tarde foi para o Fantástico. Apesar de hoje em dia ser o apresentador do linha direta ele nem comentou a respeito deste programa na palestra.

Domingos contou que foi ao fazer uma reportagem especial sobre os 50 anos da coluna Prestes em 74 para o Estadão, que ele iniciou seu interesse por literatura. Depois da publicação da matéria, ele analisou o enorme conteúdo que tinha ficado de fora e abraçou o conselho do amigo Fernando Moraes. Resolveu então escrever seu primeiro livro; "A noite das grandes fogueiras". Para atrair a atenção de leitores e deixar a leitura de seu primeiro mais agradável, Domingos disse ter usado técnicas romanescas para reproduzir a história, mas deixou bem claro que não abriu espaço para ficção, pelo contrário, seu principal interesse era retratar detalhadamente a saga da Coluna Prestes. Um exemplo que ele deu foi a pincela poética que usou para descrever a caligrafia de Washington Luiz na carta de resposta à Antônio Carlos Andrada. Ele escreve que as letras tombadas iam decaindo gradativamente ao longo do texto, até chegar no final quase deitada, como um barco que afunda aos poucos: "O topo das letras tocando as pautas pareciam os mastros tocando a água".

Certa hora da palestra ele disse: "Talvez a pior tragédia desse país, é ser um país de cidadãos não-leitores e isso é pior do que a dengue. Nós estamos construindo um país de pessoas cada vez mais alienadas, mais bestializadas”. Domingos expôs que o conhecimento, a informação, o saber, deveriam circular verticalmente e nunca se deve aceitar que o mesmo seja monopolizado, mas sim, incentivar sua circulação e sua recepção, incentivar a leitura, o diálogo. Sobre o acesso aos livros e à informação ele palestrou contando dois casos interessantes. Estava ele certa vez em um hotel de São Paulo, quando um jovem servente do local o reconheceu, ao recolher sua roupa para passar. Com certo espanto ele contou ter achado muito bacana um jovem, pobre, trabalhador da "catacumba" de um hotel, tê-lo reconhecido como autor. Perguntou ao jovem se ele tinha um exemplar do livro e o jovem respondeu que não, mas, já tinha o lido duas vezes. Depois contou que abastecendo o carro num posto de Ipanema, o frentista veio perguntar detalhes sobre o tema de segundo livro, recém-lançado na época. Esse ganhou logo o livro com dedicatória. Com isso, Domingos aproveitou para lembrar que não tem acesso aos livros é quem tem preguiça, quem diz que o livro é caro, que não tem dinheiro, mas o que falta mesmo é disposição de ir até a biblioteca municipal ou mesmo até a biblioteca das universidades públicas da cidade.

Ouça aqui o trecho em que ele conta esses episódios:.

Ao final da palestra ele ressaltou a importância do jornal impresso na sociedade. Segundo ele o jornal não é o papel velho que os professores universitários tanto pregam. O jornal, para Domingos, é antes de tudo um documento histórico. Assim como a literatura também pode ser. Seus livros são exemplos disso e ele ainda lembrou que o livro "O cortiço" de Aluísio de Azevedo, é insuperável nesta questão, analisando a descrição do ambiente, das pessoas e da cultura carioca popular da época.

Indagado sobre porque nos anos do regime militar existiam tantos jornais de caráter protestante e esquerdista; e hoje em dia, muitos desses jornais perderam a essência e não apareceram novos jornais com o mesmo caráter. Meirelles respondeu que os jornalistas de hoje, salvo raríssimas exceções, trabalham para os donos das empresas em que trabalham e não para o povo. Os interesses agora estão de cabeça pra baixo. Os novos jornalistas já estão entrando no ramo com a consciência de que serão reféns do mercado. Já saem da faculdade com essa idéia. Concluiu no final de que cabe também aos professores o dever de não deixar morrer o espírito ideológico e contestatório, tão peculiar aos jovens, em seus alunos. Mais além, ele sugere aos professores estimular certa indignação e anseio a melhorias e mudanças.

Ouça aqui os melhores trechos da palestra:.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Rompendo a Fronteira da Imparcialidade Jornalística

Extrovertido, perseverante e dedicado. Essas características fazem parte do perfil do estudante do 7º Período de Jornalismo, Leandro Pedrosa, além de sua personalidade forte e porque não dizer um bom grau de curiosidade. Sempre atento às novidades do mundo, Leandro nunca perde a oportunidade de se interar sobre os assuntos mais polêmicos. E seguindo essa linha de raciocínio, o estudante investe em seu mais novo projeto de pesquisa que é discutir a cobertura dos assuntos relacionados às FARC (Forças Armadas Revolucionária da Colômbia), nos jornais dos países envolvidos com os conflitos Colômbia, como os EUA, Venezuela e o Brasil. “Minha real intenção é mostrar o quanto um jornal pode ser imparcial, mesmo que o assunto tratado não seja de agrado do profissional ou do veículo que o aborda”, afirma Leandro.

Para trabalhar esse tema, Leandro conta com o auxílio do corpo docente da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte, entre eles estão as professoras, Janaína Maquiavel e Célia Nonato. “Já que a Faculdade me dá a oportunidade de trabalhar com profissionais tão bem graduadas como a Janaína e a Célia, aproveitarei ao máximo essa oportunidade para realizar uma excelente monografia” replica o estudante.

Para alcançar o objetivo que traçou Leandro terá de se empenhar bastante, pois assim como o próprio estudante afirma, se tratando de um tema tão polêmico com as FARC, existem várias fontes de pesquisa parciais e imparciais, e por isso é preciso bastante leitura para discerni o que será ou não proveitoso, para que no fim do ano a resposta seja positiva.

A empolgação com o projeto toma conta do estudante, cada descoberta feita sobre o tema é motivo para sonhar cada vez mais com a sua aprovação por parte da banca que o avaliará, “estou cada dia mais ansioso, não vejo a hora de juntar tudo o que estou conseguindo pesquisar e transformar esse documento não simplesmente em algo que será lido jogado de lado, mais sim algo que gere uma reflexão sobre o verdadeiro papel do jornalista ao tratar de um assunto tão polêmico como esse, e com esse pensamento sei que nada será em vão” fecha o estudante.

Com todo esse trabalho que Leandro está realizando, vale a pena apostar em um projeto conciso, polêmico e que gere sim uma reflexão em todos os que tiverem a oportunidade de ler.

Inclusive, o Leandro também andou escrevendo sobre mim.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

A culpa agora é do Raul

Está em cartaz em Belo Horizonte essa semana, no Espaço Usiminas Belas Artes, o filme "A culpa é do Fidel". O filme é a primeira ficção dirigida pela francesa Julie Gavras (filha do cineasta grego Costa Gavras). Julie reproduz a história da jornalista italiana Domitilla Calamai à partir de uma adaptação feita do livro autobiográfico de Domitilla, que quando criança recebia de sua babá constantes alertas sobre os perigos do comunismo. A culpa é do Fidel era a reposta da babá pra tudo quanto ia errado no mundo.

Fidel Castro aparece em diversos filmes e diversas são as interpretações e opiniões a respeito de sua vertente política. O matoSemdono aproveitando o momento, resalta a aparição de trechos de seus discursos no documentário "Surplus", quando ele lembra:

- "Cuba não promove o consumismo e, consequentemente, Cuba não promove a desigualde social".

Partindo daí e como grave exemplo de insurreição, segue-se um breve resumo da carreira política deste ditador cubano que deveria ser melhor compreendido principalmente pelos países capitalistas subdesenvolvidos como o Brasil, que tanto sofre com a exploração norte-americana. Afinal, Fidel conseguiu durante 49 anos deixar seu país a parte deste sitema predatório que é o capitalismo. A pergunta é: O novo governo da Ilha de Fidel será aprimorado ou subvertido pelo irmão Raul Castro?

Depois de 49 anos na contramão.

Em 26 de julho de 1953, com 26 anos de idade, Fidel liderou um grupo de 120 no assalto ao quartel Moncada em Santiago de Cuba. O assalto fracassou e vários revolucionários foram presos ou mortos. Ele foi preso e no curso do processo apresentou a sua própria defesa, o célebre texto "A História Me Absolverá".

Foi condenado a 15 anos de prisão, mas tendo cumprido 32 meses da pena foi beneficiado com uma anistia e partiu para o exílio no México aonde veio a conhecer Che Guevara. Outra personagem importante na Revolução Cubana foi o revolucionário cubano, Camilo Cienfuegos Gorriarán. Cienfuegos e Guevara se unem aos revolucionários cubanos que apoiavam Fidel Castro e inicia-se então a revolução armada.

Retornaram a Cuba comandando uma tropa de 81 revolucionários que a bordo do iate Granma invadem Cuba no dia 2 de dezembro de 1956. As forças do ditador Fulgêncio Batista, até então atual governante do país, quase aniquilam com todos na localidade de Alegría de Pío. Os sobreviventes refugiam-se na Sierra Maestra aonde dão início às guerrilhas contra a ditadura cubana.

Após 2 anos de luta a revolução é vitoriosa e os guerrilheiros, tendo à frente Fidel e Guevara, entram vitoriosos na capital Havana, no dia 8 de janeiro de 1959. Em 16 de fevereiro do mesmo ano Fidel assumiu o cargo de Primeiro Ministro. Durante um voô de Camaguey à Havana, ainda em 1959, o avião de Cienfuegos desapareceu no oceano, o que causou grande impacto em toda a população, que durante vários dias procurou algum vestígio do líder guerrilheiro, sem obter sucesso. Guevara assume o cargo de Ministro da Indústria e posteriormente Presidente do Banco Nacional de Cuba. Além de cuidar de assuntos militares, políticos e diplomáticos. Guevara representava no regime de Fidel Castro forte oposição aos ideais dos Estados Unidos. O que favorecia o estreitamento das relações entre Cuba e a União Soviética. E isto agradava aos propósitos de Fidel Castro para sua forma de governar que garantiu o poder ao exército nacional e estabeleceu as bases para um dos mais duradouros modelos socialistas da história.

Fidel recebeu o apoio da maioria dos presidentes brasileiros, com exceção dos militares no período da ditadura. Em abril de 1961 declarou o caráter socialista da Revolução Cubana. Fidel só largaria o governo de Cuba que conquistou aos 33 anos de idade esse ano, aos 82.

Seu sucessor é Raul Castro, irmão de Fidel. Raul ocupa os seguintes cargos na Ilha: presidente, vice-presidente do Conselho de Ministros, primeiro vice-presidente do Conselho de Estado de Cuba, vice-secretário do Politburo e do Comitê Central do Partico Comunista de Cuba (PCC), e Supremo General das Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea), e actual primeiro na Chefia de Comando.

Hoje a Ilha de Fidel possui a maior taxa de pessoas com curso superior Cuba e o menor índice de acesso à internet da América Latina (em Cuba só é possível navegar na WEB de hotéis ou do trabalho, principalmente nas empresas privadas que entraram na ilha em 1999). As maiores acusações contra o regime cubano são sobre a falta de liberdade de expressão e a proibição de circular livremente. É proibido criticar o governo que se defende, na política internacional, com seus altos índices educacionais, o melhor sistema de saúde gratuito do mundo e o invejável desempenho em competições esportivas, principalmente em olimpíadas. O Estado de Cuba não divulga informações oficiais sobre a situação do país, mas sabe-se que o índice de desenvolvimento humano (IDH) do país não é bom. Cuba enfrenta grandes problemas sociais e econômicos como qualquer país do mundo enfrenta.

Fidel ao renunciar esclareceu que não aspira a nenhum outro cargo no governo cubano mas que enquanto puder falar ou escrever a sua coluna no jornal Granma ele continuará influenciando as decisões políticas tomadas na Ilha.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Jornalista relata casos de violência contra movimentos sociais no Brasil

Recentemente, a jornalista Natália Viana disponibilizou o livro-denúncia "Plantados no chão - Assassinatos políticos no Brasil hoje" (Editora Conrad, 2007) na íntegra para cópia. O livro reporta seis diferentes casos, no espaço rural e urbano, de assassinatos de militantes e pessoas ligadas a alguma luta social, durante o atual período do Estado democrático de direito. Apesar de descrever relativamente poucos casos, o livro coloca em pauta a violência da qual os diversos movimentos sociais são alvos rotineiramente. Segundo a autora, a dificuldade inicial foi pela inexistência de definição de assassinato político, necessitando assim criá-lo. E, com a ajuda do filósofo Paulo Arantes, definiu-se como sendo a violência praticada contra aqueles que - inseridos em organizações sociais - lutam por direitos coletivos, como o passe livre, a reforma agrária, direitos trabalhistas, demarcação de território indígena, etc. Dessa forma, esse crime não só atenta contra a vida mas, no limite, contra a própria democracia, por impedir a participação política dos indivíduos.

A motivação de tal publicação foi devido a invisibilidade midiática desses casos, os quais continuam a se repetir e os responsáveis permanecem impunes. "Em plena democracia, os verdadeiros mandantes - os interesses econômicos e políticos contrariados pelas atividades das vítimas - parecem continuar poderosos e intocáveis", escreve Jan Rocha, jornalista e escritora, no prefácio do livro. Assim, essa iniciativa também visa agregar novas denúncias e casos através de um blog, o qual em breve será lançado.

Links:: Leia a entrevista de Paulo Henrique Amorim com a autora | Site do livro

Futuro Primitivo - John Zerzan

* matéria copiada do blog Sabotagem.
Futuro Primitivo
John Zerzan pode bem ser considerado, com pouca margem para dúvida, o mais polêmico dos filosofos vivos. Em sua perspectiva a queda dos céus da humanidade não teve início com o industrialismo e nem mesmo com a agricultura, mas sim com a aceitação da cultura simbólica, da linguagem, da arte, e o número.

A cultura, ao invés de ser vista como nossa maior emancipadora, é uma mediação a qual nos distância de uma aceitação sensual da realidade, de até aonde chega nossa capacidade de compreendermos a nós mesmos dentro do momento.

A linguagem é comunicação tornando-se presa ao assunto, arte é um preenchimento de uma realidade infinitamente mais rica, número é a prática de uma semelhança ilusória que consome nosso mundo de interesse.

Em seu livro de ensaios reunidos, Elementos de Rejeição e Futuro Primitivo (Elements of Refusal and Future Primitive), mapeia uma crítica primitivista que ele tem buscado no meio social anarquista nas últimas duas décadas.

Sua fama recente, tendo início com um artigo publicado no New York Times, e prolongada com entrevistas de rádio e televisão, focou-se imensamente em seu status de ser um dos poucos críticos da tecnologia que não acusou o Unabomber desde o início.

Com o advento de um mundo baseado na biotecnologia e na engenharia genética, pode-se colocar Zerzan na tradição dos sábios Taoístas, de Diógenes, e Rousseau como o último dos grandes expoentes do homem selvagem não limitado pelas regras dominantes – ou talvez ele seja o primeiro em uma nova tradição da qual o impacto ainda há que ser visto.

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